Alentejo, na rota do Santo Lenho

VIAGEM EM GRUPO 

Viagem com acompanhamento de escritor – António Botto Quintans

António Botto Quintans

Este passeio é inspirado no livro O Milagre, de António Botto Quintans.

Foi no Alentejo que nasceu Portugal, quando D. Afonso Henriques foi aclamado rei na batalha de Ourique. Tinha o ainda príncipe montado arraial em São Pedro das Cabeças, que dista 15 quilómetros de Ourique, quando Cristo crucificado lhe apareceu prometendo-lhe a vitória. Depois de se ver cercado e de vencer cinco reis mouros, D. Afonso Henriques mandou colocar na sua bandeira cinco escudos em forma de cruz, que simbolizam as cinco chagas com que Cristo morreu na Cruz.

A Cruz, votada ao esquecimento no Gólgota, em Jerusalém, após a morte e sepultamento de Cristo, foi descoberta no ano 326 por Santa Helena de Constantinopla, mãe de Constantino, o primeiro imperador romano convertido ao Cristianismo, conforme afirmação de Santo Ambrósio. Foi, então, dividida em duas partes: uma ficou em Jerusalém e a outra foi dividida em pequenos pedaços que foram trazidos para o Ocidente. Destes, alguns vieram para Portugal.

Neste passeio por terras do Alentejo, vamos conhecer o local onde Cristo crucificado apareceu a D. Afonso Henriques, bem como os lugares onde estão os fragmentos da Cruz de Cristo, o Santo Lenho, que vieram de Jerusalém para Portugal.

Século e meio depois, em 1282, D. Vataça de Lascaris, sobrinha do último imperador de Niceia, após a queda de Constantinopla acompanhou a Rainha Santa Isabel na sua vinda para Portugal para consumar o casamento com D. Dinis. Anos mais tarde, D. Vataça regressa a Constantinopla e Niceia para resgatar o tesouro dos Lascaris, que consistia, principalmente, nas relíquias de São Romão (ossadas), do papa São Fabião (ossadas e cabeça-relicário), e num relicário que contém o Santo Lenho (cinco lasquinhas da cruz de Cristo) que, assim, vieram para Portugal, mais concretamente para São Romão (Ourique) e Santiago do Cacém. É a esses lugares sagrados que nos vamos deslocar, para ver, tocar e venerar tão extraordinárias relíquias.

Aquando da sétima cruzada a Jerusalém, liderada por São Luís IX de França, entre 1248 e 1254, D. Afonso Pires Farinha, prior da Ordem do Hospital e de Malta, trouxe um fragmento da Cruz de Cristo, o Santo Lenho, com destino à Sé de Évora que, então, estava em construção. Todavia, o mesmo não chegou à catedral eborense. A mula que o trazia, ao aproximar-se de Portel, num sítio que hoje se chama Fonte Santa, estacou e não mais quis arrancar. Nesse mesmo lugar, diz a tradição que, quando a mula parou, morreu, e aí nasceu água da terra, daí o nome de Fonte Santa. O acontecimento, considerado divino, fez com que o lenho não fosse levado para Évora, mas sim que ficasse ali e fosse colocado na igreja visigótica que aí existia, que depois deu lugar à igreja de Vera Cruz de Marmelar, concelho de Portel, onde hoje se mantém.

Noventa anos passados, no reinado de D. Afonso IV, aquando da batalha do Salado, na província de Cádis, em 1340, que opôs cristãos a mouros, o monarca, que se encontrava com a corte em Évora, em auxílio ao rei de Castela, resolveu transportar consigo o Santo Lenho de Vera Cruz de Marmelar. Segundo os cronistas da época, a relíquia teve um papel determinante durante a refrega. A dada altura, os cristãos começaram a bater em retirada e o que os salvou foi o prior da ordem do Hospital, D. Álvaro Gonçalves Pereira, pai de D. Nuno Álvares Pereira, que colocou o Santo Lenho no alto de uma vara, e gritou para o exército: «Foi neste Lenho que Nosso Senhor Jesus Cristo morreu para nos salvar!». Com este gesto, levantou-se o ânimo dos combatentes e os cristãos infligiram uma pesada derrota aos mouros. De regresso a Portugal, D. Afonso IV determinou que a sacra relíquia fosse dividida ao meio, uma parte para Vera Cruz de Marmelar e a outra para a Sé de Évora. São estes pedaços da Cruz de Cristo, que se encontram, respectivamente, em Évora e Vera Cruz de Marmelar, que vamos ter oportunidade de ver, tocar e venerar.

O Santo Lenho – um passeio turístico, uma peregrinação, que nos leva a alguns dos lugares mais sagrados do Alentejo e de Portugal.

PROGRAMA